Como o hábito pode influenciar o desenvolvimento crítico das crianças
Por Janyelle Vieira e Pedro Vianna
O papel da literatura infantil no processo de alfabetização de toda criança é fundamental. Livros formam e educam possibilitando uma aprendizagem significativa e rica em conhecimento. Além disso, criar tal hábito desenvolve a capacidade criativa e as ajuda a aprimorar as habilidades comunicativas promovendo melhorias nas habilidades linguísticas.
A formação de um indivíduo crítico, responsável e atuante na sociedade depende da prática de leitura e é fundamental na formação do indivíduo. A família e a escola têm papel essencial para auxiliar as crianças a desenvolverem o gosto pela literatura. Assim como a participação em eventos literários.
Na 9ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, o público infantil participante conta com várias atividades.
Considerada como o maior evento literário de Alagoas e abordando o tema Livro Aberto: Leitura, Liberdade e Autonomia, a 9ª edição da Bienal Internacional do Livro reuniu, no bairro do Jaraguá, de 1º a 10 de novembro, feira, lançamento de livros, debates, oficinas, apresentações de música, dança, teatro, contação de histórias e outras atividades culturais e artísticas.
A Bienal do Livro em Alagoas é promovida pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), por meio de sua Editora Universitária (Edufal) e é a única promovida de forma totalmente gratuita e por uma universidade pública. As atrações são voltadas para os mais diversos públicos e este ano, o evento demonstra a importância da leitura como ferramenta de autonomia e de liberdade.
O público infantil também desfruta da programação, afinal, a infância é uma das etapas em que a autonomia começa a ser estimulada e praticada e a leitura, nesta fase, é um importante fator na formação educativa. Na infância, o mundo é desbravado por meio das diversas áreas do conhecimento. E a literatura é um desses meios. Mas, além da literatura, a programação infantil da 9ª Bienal do Livro contou com teatro, música, dança, cinema e artes plásticas em diversos horários e espaços.
Segundo a produtora cultural da Bienal Carol Almeida, a programação infantil é um importante fator que caracteriza a Bienal como um evento aberto a todos os públicos que se interessam pela leitura e atividades artísticas. “Estimular a leitura e a abertura de todo esse mundo para as crianças é algo que sentimos como uma responsabilidade. A Bienal precisa das crianças, pois criar esse hábito tão cedo, torna mais provável que elas tornem-se adultos que continuem frequentando eventos como a Bienal do Livro”, explicou.
Contação de histórias
A contação de histórias para crianças e jovens foi uma das atividades mais presentes na programação infantil da Bienal. Com muita criatividade, os contadores introduziram as crianças ao mundo da leitura de forma lúdica e cheia de atrativos com o intuito de chamar atenção fazendo com que elas enxerguem a leitura como uma atividade recheada de possibilidades em que a imaginação é sempre a porta de entrada.
A Companhia Literando, o grupo de extensão Anjos do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (Hupaa), a jornalista e escritora Angélica Rizzi e a estudante Maria da Conceição foram alguns dos contadores de histórias que passaram pela Bienal Internacional em Alagoas.
A Companhia Literando, que é formada por Damiana Melo e Sidney Sá e tem o objetivo de estimular a prática de literatura para as crianças, realizou uma contação de histórias cantadas em frente à Igreja Nossa Senhora Mãe do Povo na tarde do dia 5 de novembro.
“Nosso maior público é o infantil, e a gente trabalha contando histórias da literatura brasileira e universal. Com isso, nós juntamos a música, as cantigas, a tradição popular da nossa cultura e assim, construímos cada apresentação que fazemos” explicou Damiana.
“Participar dessa atividade foi muito legal. Foi muito divertido a forma como nos contaram a história, nunca tinha visto alguém fazer isso, cantando. Foi bem diferente”, contou a estudante Tábata Oliveira de 10 anos sobre a oficina da Companhia Literando.
A apresentação Encanta: Conto e Canta com os Anjos do Hupaa que aconteceu na Praça da Matriz, em frente à Igreja Nossa Senhora Mãe do Povo, foi outro momento que emocionou o público.
O grupo Anjos do Hupaa são contadores de histórias que atuam no Hospital Universitário Professor Alberto Antunes. Formado por servidores do HU e acadêmicos da Universidade, o grupo é uma ação de extensão ligada ao curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de Alagoas. “O nosso objetivo é ressignificar o ambiente hospitalar, desconstruir a ideia que o hospital é apenas lugar de dor e doença e contribuir para a humanização em si e amenizar os sentimentos negativos dos usuários do hospital”, explicou a Bibliotecária e coordenadora adjunta do projeto Isabel Calheiros.
Sobre a participação do grupo na Bienal, Isabel conta que a tecnologia, diante da contação de histórias, afasta o público dessa prática e estar inserido na programação é fundamental. “A contação de histórias aproxima, incentiva a leitura, entretém. Tem um leque de benefícios”, ressaltou.
Já na manhã da quinta feira, sétimo dia da Bienal de Alagoas, a praça em frente à Igreja Nossa Senhora Mãe do Povo recebeu mais uma contação de histórias. Dessa vez, a atividade foi realizada pela jornalista e escritora porto-alegrense Angélica Rizzi que contou a história do seu novo livro Pituco. O livro traz histórias de personagens reais. Enquanto Angélica interagia com o público, as crianças ouviam e participavam ativamente.
“A gente não precisa só do computador ou do iPad, ou do celular, para ter interatividade. O livro já é uma ferramenta interativa, porque ele é um universo rico que pode levar pra qualquer lugar e não vai acabar a bateria”, destacou Angélica. A escritora também sanou dúvidas das crianças sobre outros livros e autores que elas já conheciam e sorteou brindes. O público das atividades são crianças de diversas escolas visitantes.
A inclusão social também foi uma das formas de trazer o livro para as crianças com a história Charlotte, uma gata francesa em Maceió, o livro é de autoria de Maria da Conceição, estudante de Letras-Libras na Ufal.
“No segundo período, a professora da disciplina literatura surda, pediu para a turma desenvolver histórias, que tivessem como tema a inclusão. Foi quando surgiu a história da gatinha Charlotte, francesa, porque a língua de sinais nasceu na França, e ela sendo coda, porque é filha de pais surdos e ouvinte. Então, essas crianças são denominadas como codas, elas oralizam. Nisso, como é que a gatinha, ou as crianças ouvintes, conversam com os pais que são surdos? Através da língua de sinais. Assim, desenvolvi a história”, explicou.
A história da gatinha francesa encantou as crianças, inclusive elas até aprenderam a fazer o sinal da Charlotte em libras. Yann Vitor, de 10 anos, estudante da Escola São Luiz, conta o que achou da história e da Bienal. ‘’Eu tô achando tudo legal, é bem educativo para as crianças aqui. Gostei muito de conhecer o sinal em libras da gatinha, porque ensina um pouco a gente, para quando encontrar uma pessoa surda, falar com ela em libras”, disse.
Outras formas de apresentar os livros para as crianças
A Feira de Livros da Bienal de Alagoas, montada no Espaço Armazém, ofereceu além de exemplares com personagens das animações infantis e contos especializados para esse público, diversas opções. Livros interativos, com fantoches e brilho. Alguns podem até ser lidos na hora do banho e outros, contam com o auxílio do pop-up, um recurso em que, ao folhear o livro, as imagens “saltam” das páginas formando cenários e tornando a história ainda mais interessante.
Entre as opções oferecidas, também são encontrados clássicos da literatura, em formato de quebra-cabeça. Cores, imagens, texturas e formas diferentes são atrativos para estimular no público infantil o interesse pela leitura. Além das opções variadas, outro fator que ajudou foi o preço baixo com as promoções e também o vale livro que proporcionou às crianças de escolas públicas que em geral não possuem renda para poder comprar os livros oferecidos.
Quando as crianças reconhecem os personagens de seus desenhos preferidos ou quando os livros possuem caneta, tinta ou adesivos, a leitura é facilitada já que nesta fase, as crianças sentem necessidade de variados estímulos.
Para a professora infantil aposentada Edna Correia, os estudantes precisam desse estímulo, mesmo que a maioria compre livros que não necessariamente estejam ligados a uma leitura mais elaborada. “Apenas o fato deles se interessarem por adquirir livros e poder se entreter com isso já é uma forma de interação necessária com esse mundo. Esses livros mais simples são uma porta de entrada para o desenvolvimento de um jovem que gosta de ler e é claro que com o amadurecimento vão vindo outras obras”, destacou.
A escritora de livros infantis e autora de mais de quinze livros dentro do nicho, incluindo o best-seller Os Três porquinhos do Agreste, Cláudia Lins preparou a oficina Ler é brincar! O momento aconteceu no auditório do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A autora inovou e trouxe uma proposta diferente de programação infantil, sua oficina também foi destinada aos adultos, pois o intuito foi fazer com que seja compreendido que as obras infantis possuem profundidade suficiente para que os adultos também desfrutem e que a estimulação da imaginação e da criatividade continua sendo uma atividade importante mesmo depois do fim da infância tecnicamente. Além disso, segundo Cláudia, o adulto também aprende a como lidar melhor com as crianças quando percebem as infinitas possibilidades de brincar com os livros e de como contar uma simples história que todos já conhecem.
A partir disso, a autora apresentou um jogo onde as ilustrações de futuras obras suas serviram de ponto inicial para os participantes da oficina criarem histórias e apresentá-las a todos. “São possibilidades de brincar e criar a partir do livro. Aprender como lidar com livros de imagens. A partir do jogo com imagens propostos pela oficina, ensinamos que não existe um jeito de fazer, pode-se criar histórias de várias maneiras”, explana. “Às vezes as crianças só querem brincar, enquanto outras querem realmente criar. São crianças que querem escrever. Então, juntei um pouco de cada coisa que acredito funcionar com elas”, completou.
A contação de histórias alcançou outros âmbitos. Foi também realizada a oficina A arte e a magia na confecção de fantoches para auxílio da aprendizagem infantil no último dia de atividades da Bienal no Pavilhão das Oficinas promovida pelo grupo Te Conto Um Conto, que leva histórias para escolas e, futuramente, chegará aos hospitais de Maceió.
Na atividade, as crianças poderiam criar fantoches a partir de materiais recicláveis. “Nosso objetivo é tentar ir onde, muitas vezes, a escola não consegue”, disse a responsável Deborah Layanna. Ela também falou sobre a matéria-prima utilizada na produção. “O nosso foco foi que os fantoches fossem feitos a partir de material reciclável, por conta de todos os problemas ambientais que a gente vem vivendo”, acrescentou.
“Eu ainda quero ir pra uma oficina mais tarde, de desenho e arte, que eu ‘super adoro”, contou animada Maria Clara, de 10 anos. O fantoche da menina foi produzido com garrafa pet. "Ao invés de ir para o lixo tá indo pro meu quarto, pra eu brincar", completou. Assim como Clara, as outras crianças também escolheram o material que queriam usar e foram auxiliadas pelas facilitadoras do grupo.
Dessa forma, o desenvolvimento da imaginação das crianças e também dos adultos, colocou a literatura infantil como um meio que pode ser trabalhado de diversas maneiras. O ato de ler e escrever em sua forma básica não são os únicos meios de chamar a atenção das crianças para esse mundo. A oficina de fantoches deixou claro que chamar à atenção das crianças ao fato de que elas podem ser criativas e desenvolver mundos inteiros nas suas cabeças pode ser a porta de entrada perfeita para o mundo da leitura também.
Além de ler, escrever
O estímulo à escrita também pode servir como influência a leitura e vice-versa. As oficinas também trabalharam de uma maneira mais direta no desenvolvimento da criatividade nas crianças.
No dia 5 de novembro, o escritor e cineasta paulista premiado, José Torero, realizou a atividade Como se escreve um livro? O momento aconteceu na praça da Igreja Nossa Senhora Mãe do Povo e trouxe para as crianças que estavam acompanhadas do professor Gleberson Carvalho, uma explicação de que a escrita é um ótimo modo de desenvolver a imaginação.
Para Eduardo Vieira de 12 anos, a escrita sempre foi um meio de diversão. Ele conta que gosta de ficar na sala de desenhos da escola escrevendo suas histórias. “Eu gosto de escrever porque posso fazer o que quiser com os personagens que me interessam. Eles fazem o que eu quero porque fui eu quem criei eles”. Eduardo ainda não sabe se realmente quer ser escritor quando crescer mas espera continuar tendo essa relação com os livros. “Eu também leio, sempre gostei de ler e acho que sempre vou gostar porque eu me divirto contando a história”, contou.
Além do estímulo à escrita, Torero incentivou também o estímulo à leitura. O escritor mencionou que um sonho nunca pode ser esquecido. “Temos que escrever várias vezes até achar que está bom e seguir adiante. Quando criança não imaginava que um dia seria um escritor” relembrou.
A contação de histórias e de como a partir de um mesmo personagem pode-se criar vários contos, citando o conhecido Rapunzel, também fizeram parte da atividade. Algo que pode ser entendido como uma introdução as fanfics (uma narrativa ficcional, escrita e divulgada por fãs) algo bastante popular entre os jovens e que fizeram o sucesso de aplicativos como Whattpad. A prática vem sendo reconhecida como um importante meio de fazer com que essas crianças e jovens continuem se interessando pelo mundo da leitura, mesmo com tantos outros artifícios disponíveis para a diversão.
O professor Gleberson Carvalho, que acompanhava os alunos no momento, fez elogios sobre a atividade para o público infantil ressaltando ser de extrema importância para o desenvolvimento das crianças.
O bate-papo foi a primeira atividade direcionada às crianças, que seguiram para visitação ao Espaço Armazém e para adquirir livros, por meio de vale-livros ofertados pela Secretaria de Educação de Maceió, rede de ensino a qual pertence a Escola José Carneiro.
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