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“Hoje o Graciliano Ramos é sinônimo de gastronomia”: como empreendimentos trazem vida e movimentam a economia local

Por Laura Albuquerque e Carol Neves


Feira Gastronômica do Graciliano Ramos, em 2023. Foto: Julio Vasconcelos

“Na minha opinião, o Graciliano Ramos é um polo gastronômico em constante construção. O bairro é um excelente exemplo do poder de transformação que os bares e restaurantes têm. Basta uma breve caminhada para ver a quantidade de estabelecimentos, com qualidade, que são ofertados à população. Hoje o Graciliano é sinônimo de gastronomia”.


A opinião é de Marcus Batalha, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Alagoas (Abrasel/AL). Ele explica como bares e restaurantes trazem vida aos bairros e movimentam a economia local, gerando mais empregos e maior sensação de segurança à comunidade. 


Segundo Marcus, além dos benefícios financeiros e de segurança, existe a questão cultural envolvendo a identidade do local. “A gastronomia traz um pouco da história daquele local, o que consomem, seus insumos e isso reflete na cultura daquela população”.


O presidente afirma que o desenvolvimento observado no bairro, nos últimos anos, vem se fortalecendo cada vez mais, no entanto, nem sempre foi assim.


Um relato local

Construído em 1992, o Graciliano Ramos é um conjunto habitacional localizado na parte alta de Maceió que fez parte de um empreendimento da Caixa Econômica Federal. A construção do conjunto foi importante, pois atraiu moradores de diversas partes da capital, bem como do interior de Alagoas.


Apesar de ter uma localização mais distante dos grandes centros de Maceió, o conjunto vem apresentando um progresso lento, mas significativo desde sua criação, impulsionado pela chegada de novos empreendimentos, sobretudo do ramo gastronômico.


Moradora do Graciliano Ramos há mais de 24 anos, Rozimere Severo conta que, assim que se mudou para o conjunto habitacional, ele era muito diferente do que é hoje.


“Quando cheguei, o conjunto estava bem desabitado, era um residencial em formação. O comércio se resumia a escolas, mercadinhos, salão de beleza e à churrascaria Acauã”.


De acordo com a percepção da dona de casa de 52 anos, o desenvolvimento do conjunto aconteceu de forma rápida e trouxe inúmeros benefícios. Ela ressaltou que o crescimento no ramo gastronômico faz com que o bairro seja conhecido pela variedade de opções. “Tenho amigos de fora do bairro que são clientes assíduos”.



Rozimere Severo, moradora do Graciliano Ramos. Foto: Cortesia

Para a moradora, não é mais necessário sair do Graciliano para encontrar serviços de qualidade. “Você não precisa sair do conjunto para consumir uma boa comida”. 


Um relato sobre experiência

“Podemos ter o nosso lazer mais perto e essa sensação de estar em casa fortalece nosso senso de comunidade”. Essa foi a fala de Ismayr Bispo, de 23 anos, uma fisioterapeuta que mora no Graciliano Ramos desde que nasceu.



Ismayr Bispo, moradora do Graciliano Ramos. Foto: Cortesia

A jovem conta que consome produtos alimentícios do conjunto com muita frequência, seja em lanchonetes e restaurantes durante a semana ou em bares no final de semana.


Para a fisioterapeuta, o que mais a motiva a optar pelos estabelecimentos locais é a proximidade, a ambientação e os preços acessíveis. Coincidentemente, quando questionada sobre os lugares gastronômicos favoritos do Graciliano, a moça escolheu a confeitaria ‘Willi & Cakes’ e o bar ‘Boteco do Cervejeiro’ como seus preferidos.


Ao especificar a ida a bares, Ismayr enfatizou que, além do espaço físico agradável, procura por atrações musicais interessantes e consegue encontrar os dois dentro do próprio bairro.


A moradora acredita que os novos empreendimentos gastronômicos contribuem para que a economia local seja alavancada. “Quanto mais gente empreende, mais oportunidade a outras pessoas têm de empreender aqui, fazendo esse âmbito crescer”.


“Não tenho a mínima vontade de empreender na Ponta Verde”

Dona de um empreendimento que carrega seu nome, Williana Bernardo, mais conhecida como Willi, abriu sua doceria, a ‘Willi & Cakes’, junto de seu esposo, em 2018, na avenida principal do conjunto.





A confeiteira menciona que já cozinhava desde os sete anos, mas não tinha intenção de trabalhar no ramo. Willi fazia bolos e doces para as comemorações de seus conhecidos, sem cobrar pelo serviço. “Eu tinha medo de vender, porque eu acredito que o bolo é o sonho de uma pessoa na festa”.


A profissional relata que, no início do empreendimento, quando ainda não tinha um ponto físico, sua agenda de produção de um ano inteiro era fechada em três meses. Por isso, após o sucesso de vendas e a adesão da clientela, Willi percebeu que deveria ter um estabelecimento e explicou a escolha da localização.


“Todas as vezes que a gente queria comer algo diferente, se a gente não vai na Ponta Verde, vai onde na parte alta? No Graciliano. Eu sentia no bairro a necessidade de algo diferente, que, quando você entrasse, se sentisse na Ponta Verde, com um atendimento massa, produtos de qualidade a um preço legal”.


A fala de Willi refere-se à parte baixa da cidade, que é composta por bairros como Jaraguá, Pajuçara, Ponta Verde e Jatiúca. Essas regiões são mais antigas, situadas na orla de Maceió, concentrando a maior parte dos serviços de atendimento e entretenimento da capital. Já a parte alta é caracterizada por bairros residenciais mais afastados do centro de Maceió.


Willi explica que ela e o marido sempre gostaram de ter experiências gastronômicas e que queria passar isso para seus clientes, desde a ambientação até os sabores diferenciados de doces. Hoje a ‘Willi & Cakes’ já produziu cerca de 50 doces diferentes e possui cardápios semanais.


“E por incrível que pareça, eu não tenho a mínima vontade de ir para a Ponta Verde”.

Empreendedorismo em ascensão

“As empresas do Graciliano trazem desenvolvimento para o próprio Graciliano”. A empreendedora Williana Bernardo descreve que a estrutura do bairro propicia o crescimento dos negócios gastronômicos, pois ao caminhar pela avenida principal os consumidores se deparam com diferentes comércios alimentícios. Os estabelecimentos vão de comida japonesa e hambúrgueres artesanais, a pizza no cone e sorveterias.


“Vem muita gente da parte baixa só pra comer um docinho”, acrescentou.

A doceira afirma também que, no último ano, percebeu um aumento no número de confeitarias nas localidades, uma vez que foi pioneira no setor de doces do conjunto. “Seis anos atrás, não existia nenhuma. De um ano para cá, tem mais quatro, além da Willi & Cakes”.


Veja: Willi fala de sua passagem na Feira Gastronômica do Graciliano Ramos.




“A gente conseguiu revitalizar a região”

Um exemplo de empreendimento que também ajudou no desenvolvimento do bairro foi o bar Boteco do Cervejeiro. Localizado na Avenida Empresário Nelson Menezes, no conjunto Graciliano Ramos, o negócio se apresenta como um dos mais agitados da região.





Os sócios-proprietários do Boteco do Cervejeiro, Carlos Vasconcelos e Henrique Damasceno, relatam que o objetivo inicial era abrir um depósito de bebidas, no entanto, de última hora, o dono do local desistiu de alugar o ponto.


Eles contam que a ideia propriamente dita de começar um empreendimento no ramo de bares e restaurantes surgiu a partir de um hobbie em comum: frequentar os barzinhos da região. 


“A gente foi fazendo algumas perguntas para nós mesmos de como gostaríamos de ser atendidos e atender nossos clientes”, pontua Carlos.


Os parceiros de negócios visitaram vários bares de Maceió antes de tocarem a ideia. “Observamos os prós e os contras, onde eles pecavam, para a gente não cometer o mesmo erro, sempre focando na excelência do atendimento”. O propósito, segundo os donos, era oferecer algo além do básico.


“Eu gostaria que a pessoa entrasse no meu estabelecimento e saísse ainda mais feliz, mesmo gastando dinheiro”, afirma um dos sócios.

Carlos compartilha que, antes da inauguração em outubro de 2020, o local, onde atualmente funciona o Boteco, era apenas um terreno baldio em uma parte esquecida do bairro. Para ele, com a chegada do Boteco, essa parte antes deserta, foi valorizada.


“Se você pegar essa rua hoje e pegar o antes, há uns três anos, aqui era um deserto. Então, hoje em dia, a gente conseguiu valorizar esse lado do Graciliano Ramos, que é o Acauã, incentivando o comércio”, destaca o empresário.



Na sua opinião, a tendência é que o comércio nessa parte do bairro cresça e aumente a segurança, não só na principal do bairro, mas também nas demais ruas. “Ninguém queria andar por aqui, porque tinha muito roubo. Mas a gente conseguiu revitalizar essa região”.


Maior protagonismo na parte alta de Maceió

“Hoje, a gente consegue entregar para o nosso cliente um cardápio que não deixa a desejar, se comparado aos bares da parte baixa de Maceió. Um mix bem interessante, uma cozinha muito boa, produtos de qualidade e com um preço acessível. Além disso, as mesmas bandas que tocam lá vêm aqui”. É assim que Carlos, um dos sócios-proprietários do Boteco do Cervejeiro, relata como o seu empreendimento tem ajudado a descentralizar a oferta de serviços e de entretenimento, levando protagonismo às áreas mais periféricas da capital.


Para o empresário, o Boteco oferece uma estrutura diferenciada entre os bares da parte alta de Maceió. Ele cita que, além de reservas, o bar conta com entretenimento musical e rodas de sambas com entrada free. “Tanto a parte de lounge, quanto a parte dos banheiros, todos são climatizados. Temos uma estrutura que não deixa a desejar nem na parte baixa, nem aqui em cima”.


Carlos defende que o Boteco do Cervejeiro tem equilibrado a oferta de bares e restaurantes, que antes era muito restrita à parte baixa da cidade. Com a oferta de um serviço acessível e bem estruturado, o dono reforça que o cliente vê mais vantagens em consumir próximo de onde mora, sem precisar gastar tanto com deslocamento.


“Pensando do ponto de vista do nosso cliente mesmo, só o translado da parte alta para a baixa, já dava R$ 30 ou R$ 40 reais de Uber a depender do dia e do horário”, enfatiza Carlos.


Veja: Henrique e Carlos falam dos planos para o futuro do 'Boteco do Cervejeiro'




“Um dos setores que mais empregam hoje no estado”

Segundo o doutor em Economia Anderson Araújo, o crescimento de bares e restaurantes em áreas fora do circuito litorâneo, mais especificamente na parte alta da cidade, é uma tendência que vem chamando a atenção nos últimos anos.


“Em alguns bairros e conjuntos residenciais, diversos segmentos ligados à alimentação e ao entretenimento têm se aglomerando, trazendo geração de emprego e renda para os residentes e dinamizando economicamente essas comunidades”, afirma o especialista.


O doutor esclarece que esses empreendimentos acabam influenciando na dinâmica de outros segmentos, como aluguéis, vestuário, farmácias, supermercados locais e feiras livres. Por envolver uma mão-de-obra volumosa, os bares e restaurantes ampliam a oferta de trabalho para pessoas residentes nas áreas próximas.


Em concordância com o economista, o presidente da Abrasel, Marcus Batalha, diz que o setor de alimentação fora do lar é um enorme indutor de empregos. “Um dos setores que mais empregam hoje no estado”.

Marcus Batalha, presidente da Abrasel/AL. Foto: Reprodução

Um exemplo dessa tendência pode ser notado no Boteco do Cervejeiro. Conforme revelado pelos proprietários, atualmente, o bar emprega cerca de 35 pessoas, contando os profissionais da inspeção, segurança, cozinha e serviço de atendimento.


 “A gente conseguiu dar oportunidade a muita gente aqui do bairro”, diz Carlos.

Desafios

Apesar do setor gastronômico ser promissor, empreender envolve inevitavelmente inúmeros desafios. Para o economista Anderson Araújo, compreender o perfil do cliente, a demanda de produto e a precificação são os principais aspectos que devem ser levados em consideração antes de abrir um negócio gastronômico.


“Existe uma certa rotatividade de novos empreendimentos em bairros, evidenciando a necessidade de uma pesquisa de mercado antes da decisão de empreender”, destacou o especialista.


O presidente da Abrasel também elencou, como o maior desafio para a abertura de uma empresa de alimentos, entender as especificidades do público. Marcus evidenciou também que atender as necessidades do local onde deseja empreender é um ponto importante.


“As oportunidades são muitas, então levar para o bairro algo que ainda não é ofertado e ser pioneiro por ali pode fazer toda diferença”, esclareceu.


Sobre os desafios vivenciados na prática do mercado do Graciliano Ramos, Carlos e Henrique contaram que a pandemia foi um dos maiores já enfrentados por eles. O estabelecimento noturno precisou ter o horário de funcionamento reduzido, aberto somente de 18h às 20h.


Outro problema abordado pelos proprietários do bar é a alta carga tributária. “Hoje em dia, a dificuldade é isso: a gente paga muito imposto e o retorno é pouquíssimo”.


Já para Willi, as dificuldades do seu empreendimento giram em torno dos funcionários. A confeiteira explica que, por se tratar de um negócio gastronômico, a demanda de trabalho precisa ser em horários diferentes do expediente comum, como finais de semana.


A empresária diz também que em algumas ocasiões de contratação, especificamente com o público feminino, há uma objeções em seguir as exigências higiênicas para o trato com as comidas. A qualificação profissional também foi um ponto trazido por Willi. 


Segundo a empreendedora, muitas pessoas não querem se ajustar às necessidades de horário e de serviço exigidas pelo negócio.


No entanto, mesmo com as dificuldades, os empreendedores afirmam que conseguem se destacar, valorizando a economia local e consolidando o conjunto como uma comunidade gastronômica.


Comunidade gastronômica 

Mesmo com os desafios, os avanços são expressivos, tanto que o Graciliano Ramos se tornou palco de diversos eventos culturais e gastronômicos. O último deles foi a ‘Feira Sustentável Sabor do Campo’, que aconteceu no dia 26 de maio deste ano. Mas as ações não param por aí.

Feira Gastronômica do Graciliano Ramos, em 2023. Foto: Julio Vasconcelos

A presidente da Associação de Moradores do Graciliano Ramos (AMGR), professora Valéria Cavalcante, explicou que o objetivo de promover os eventos é valorizar, estimular e fomentar o crescimento da região. A gestora informou que, além da feira anteriormente citada, existem a feira literária, a de artesanato e ainda a conhecida ‘Feira Gastronômica do Graciliano Ramos’.


Partindo para a sexta edição, a iniciativa é parte da colaboração da AMGR com o apoio do Sebrae e da Prefeitura de Maceió. O evento organizado pelos próprios moradores é um sucesso e possibilita tanto o enaltecimento da cultura local quanto o progresso econômico.


“A feira gastronômica fez com que os moradores desenvolvessem um sentimento de pertencimento e de orgulho com o conjunto. Ela também proporciona a interação entre moradores, comerciantes e empresários, valorizando o Graciliano”, enfatizou Valéria.


Para a presidente da AMGR, o mercado gastronômico da região oferece múltiplas escolhas para a comunidade, tornando-o modelo frente aos negócios de outras localidades.


“O Graciliano Ramos é um local com uma das melhores gastronomias da parte alta. É uma referência a nível do estado de Alagoas”.


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