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Feiras ao ar livre como elemento de cultura, resistência e sobrevivência.

Reportagem por Luana Barros e Stephanie Larissa.

feirinha do Tabuleiro, Máceio/AL, foto: Stephanie Larissa


As feiras ao ar livre existem há muito tempo, desde a idade média, porém, até mesmo hoje em dia, com a evolução dos mercados, centros comerciais, shoppings e lojas de rua, elas ainda persistem. Essa tradição secular é muito comum no estado de Alagoas, sendo a principal atração nas cidades do interior do estado. Na capital, Maceió, é possível observar o grande movimento nas feirinhas fixas que ficam espalhadas nos bairros de maior movimentação. É muito comum que as pessoas visitem as feiras ao menos uma vez por mês, em busca de mantimentos para a casa, como frutas, verduras e legumes. Porém, as feiras também dão espaço para lanches: cafézinho, tapioca, bolos, sucos, pastel e até mesmo cachaças artesanais.

Com a produção desta reportagem, conseguimos apurar que o preço do produtos nas feiras populares não é o maior atrativo para a população que compra no local. Por exemplo, verduras e legumes podem variar em até R$4,00 reais em relação ao seu preço nas lojas. Porém, em alguns dias, os preços estão equiparados ou até mesmo mais altos do que nos supermercados. Isso evidencia a esta reportagem que a diferença de preço não é o principal motivo da resistência das feiras. Entrevistamos o feirante Leslie, que nos contou que, na seção de leveduras, o produto mais vendido é o tomate, batatinha e cebola. Caso um desses produtos falte, ele comenta, é possível ficar no prejuízo o dia todo. Na opinião do feirante, que planta e fornece os próprios produtos, a maior vantagem das feiras é o preço dos produtos e a facilidade de encontrar os variados alimentos em um só lugar.

Um ponto a se levar em consideração para essa grande procura e a tamanha resistência das feiras na capital e nos arredores, é a vantagem de que o comprador consegue observar todo o processo do seu alimento. No mercado público de Maceió, é possível observar o primeiro estado do alimento, seu preparo, o processo de embalagem e o produto sendo entregue em suas mãos em tempo real. Ao contrário do que acontece nos grandes supermercados, onde aquela comida já chega embalada e pronta para a venda, você não consegue ter 100% de confiança no seu processo de produção até chegar ali. Na hora feira, essa ação de conversar com o agricultor, saber de onde veio o alimento, observar todo o processo até a hora da compra, dá ao consumidor uma sensação de confiança que o supermercado muitas vezes não consegue proporcionar; o consumidor consegue ser responsável por sua comida, mesmo de forma passiva.



É comprovado cientificamente que o ser humano sente mais empatia por aquilo que consegue ver. Ou seja, ao comprar o alimento de um supermercado, você não vê diretamente para onde o seu dinheiro vai depois que passa pelo caixa. É claro que temos o conhecimento de que vai para o funcionário, o gerente, o dono e etc; mas no mercado público você consegue ver na sua frente o produtor do alimento, que cultivou aquilo e que irá se beneficiar com o fruto do seu trabalho. Muitas vezes eles também não estão sozinhos, já que muitas das barracas são comandadas por uma família inteira, como comprovado neste áudio do senhor Milton, que trabalha como feirante há mais de 30 anos e nos deu uma breve entrevista sobre o assunto.






Então dá para perceber que, logo no primeiro contato com o vendedor, o cliente para de vê-lo como um mero comerciante e começa a enxergá-lo como um pai de família, uma mãe, uma filha. Você vê o trabalhador que cultivou o alimento e fez de tudo para que estivesse fresquinho na sua frente naquele momento. Esse contato faz com que os clientes dos mercados e feiras se tornem extremamente fiéis, já que tem contato direto com o vendedor e produtor do alimento. Isso torna possível o crescimento da relação consumidor-vendedor, já que dúvidas podem ser tiradas na hora com o produtor do alimento, negociações de preço podem acontecer, conversas sobre o dia a dia e etc. Isso tudo faz com que o sentimento depois da compra seja também de gratidão, pois você sabe que ajudou alguém e, dessa vez, você ajudou ‘diretamente’. Esse pensamento cria um vínculo, mesmo que não seja notado, entre ambas as partes, o que conta muito mais do que um mero vínculo entre comprador e vendedor.

Milton afirma que tem clientes de anos, que conversa como amigos íntimos, contando confidências e compartilhando o dia a dia. De acordo com ele, é uma amizade que sempre é criada e fortalecida, o que faz com que sua rotina diária, que não é nada leve, seja recompensada. Ele nos contou que acorda cedo, às 4h da manhã, vai à sede da Ceasa e dá o melhor de si para entregar sempre os melhores produtos para os seus clientes, uma ação que sempre compensa no final.

Um ponto que vai de encontro ao crescimento das feiras é o descaso do local onde elas acontecem. Muitas vezes o local onde fica exposto o alimento que deve ser vendido, é acompanhado de lama e sujeira, o que acaba afastando o consumidor.


feirinha do Tabuleiro, Maceió/AL


A prefeitura da capital tem feito mutirões de limpeza ocasionais nos pontos de feiras de Maceió, porém, até mesmo a infraestrutura da cidade é um obstáculo quando o assunto é lama, já que basta um temporal para fazer com que Maceió fique rodeada de lamaceiros e alagamentos. O mesmo acontece nos locais onde as feiras costumam acontecer, como nos conta a consumidora Sandra Micheline, no seguinte áudio:


O feirante Leslie, que não quis nos informar o seu sobrenome, ainda completa, dizendo que a Prefeitura fez diversas promessas ao longo dos anos, mas que elas não são cumpridas como deveria: a promessa de um toldo e da energia elétrica constante ficaram somente no papel.

Ele afirma que a comunidade ainda continua precisando de mais melhorias no local. Já Milton, afirma que resolver os problemas da feirinha do Tabuleiro com a prefeitura é sempre ''uma missa'', fazendo alusão a um problema bastante demorado. Sujeira, falta de organização, falta de funcionários da limpeza para ajudar nas bancas no local, o céu aberto e a falta de estrutura são apenas alguns dos problemas citados pelo feirante, que denuncia a omissão da prefeitura em relação aos feirantes do Tabuleiro.

Para finalizar nossa reportagem, fizemos um vídeo mostrando um pouco a realidade dos feirantes e como é a feira do Tabuleiro do Martins. Nesta reportagem multimídia, fica claro o nosso objetivo de mostrar como é a realidade desses trabalhadores e porque devem ser sempre divulgados e valorizados, assim como o hábito de comprar em feiras deve ser sempre ensinado a gerações.



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