Além de muita cultura, a 9º edição da Bienal do Livro de Alagoas contou com uma grande participação dos estudantes de rede pública, levando-os a uma abrangência de conhecimentos e experiências
Por Adler Tavares e Marina Prazeres
Foto: Marina Prazeres
Este ano, o tema da Bienal “Livro Aberto: Leitura, Liberdade e Autonomia” girou em torno da História alagoana, que precisa, cada vez mais, ser contada em um livro aberto: uma verdadeira imersão e uma ampliação do sentido das palavras liberdade e autonomia, que a História nos dá. Segundo a organização, a ideia foi promover uma reflexão sobre nossos processos de formação histórica, autonomia, construção de identidade local e nacional.
Considerada como o maior evento cultural, literário e social do Estado, a Bienal Internacional do Livro de Alagoas chegou a sua 9ª edição. Tendo como principal produtora a Universidade Federal de Alagoas através da sua Editora (Edufal), sendo a única universidade pública brasileira que realiza uma Bienal do Livro totalmente gratuita, sem cobrança de ingresso e sem fins lucrativos.
O evento foi realizado durante os dez primeiros dias do mês de novembro e ganhou as ruas do histórico bairro de Jaraguá, com personagens da literatura e livros que andam. Além da tradicional feira de livros, com cerca de 71 estandes de diversas editoras, o evento contou em sua programação com lançamentos de novos títulos, oficinas, palestras, rodas de conversa com pessoas escritoras convidadas, espetáculos de música, dança, teatro, contação de histórias e outras expressões artísticas, espaços de convivência e alimentação.
Diversos prédios abriram suas portas para a população, dando vida à 9º edição do evento, garantindo comodidade e segurança aos participantes. Segundo a organização, foram mais de dez prédios utilizados, entre eles: a Associação Comercial, o Instituo do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAN) e o Museu da Imagem e do Som (MISA).
Em entrevista ao portal Gazeta Web, a professora Elvira Cardoso, coordenadora do evento, relatou que a Bienal sempre acontecia no Centro Cultural de Exposições Ruth Cardoso, mas devido ao grande número de visitantes, que vinha aumentando a cada edição, surgiu a necessidade de mudar de local. "O Centro de Convenções passava a sensação de que ele era pequeno para tanta gente. Além disso, o estacionamento de lá está em reforma, então tudo convergiu para que no 18º aniversário da Bienal nós fossemos à rua", disse Elvira.
Segundo Carol Almeida, programadora geral da Bienal nesta edição “o tema geral tem com o objetivo de democratizar o acesso à leitura, literatura e outras áreas, trazendo diversos temas para ser discutidos, desde saúde até música. Assim, procuramos diversificar ao máximo a programação, para atender aos mais diversos públicos. Foram oficinas com temas desde a literatura à fotografia; mesas-redondas debatendo a violência contra a mulher e educação popular. É uma Bienal diversa, como as últimas edições, buscando ser um evento o mais democrático possível.”
Nessa 9º edição da Bienal, Carol, que começou como monitora e hoje é uma das coordenadoras, emociona-se ao lembrar da evolução do evento. “A Bienal é uma menina que está crescendo. Ela começou a crescer constantemente e agora traz revitalização e para o bairro, movimentando e ocupando nossos lugares”, declarou.
Neste ano, tendo em vista que a Bienal aconteceu em ambiente aberto, o número de monitores a realizarem a mediação do evento para os visitantes foi dobrado, visando uma ampla, acessível, segura e assertiva comunicação educativa com os interessados.
Foto: Marina Prazeres
Entre os participantes, os estudantes, em sua maioria de rede pública, são o maior público do evento. Para controlar e organizar o fluxo, a Bienal contou com um sistema de agendamento de visitação, que era aberto para todas as escolas. Cerca de 90 colégios passaram diariamente pelas ruas do Jaraguá. O agendamento para escolas foi realizado exclusivamente on-line. No geral, a expectativa de receber, em média, entre dez a 15 mil visitantes diariamente. Segundo a organização, a ideia da mudança de local surgiu também para melhor alocar os estudantes.
De acordo com a Professora Almira Albuquerque, a participação dos estudantes na Bienal é considerada uma experiência ímpar, “dando uma acessibilidade aos bens, como um patrimônio cultural, através da contação de histórias, e pela experiência de ver diversos livros, conhecer personagens fantasiados, assistir a teatros”. Além disso, a educadora enfatizou o fato de o evento ter acontecido em um local público, aberto aos jovens, que estão podendo ter esse contato com um bairro antigo, e tendo suas experiências arquitetônicas do Jaraguá, vivendo um pouco mais da história do Estado. Segundo ela, esta edição oferece aos alunos os alunos um momento de aprendizagem, cultura e muita diversão.
Com uma programação diversificada e específica para cada tipo de público, outra inovação na edição desse ano foi o grande número de atrações culturais. Igrejas, praças e museus abrigaram as mais diferentes manifestações artísticas. Durante o dia a contação de história animou a visita da criançada, mostrando a importância da leitura e criando o hábito e desejo de ler. Ao anoitecer, diversas bandas musicais comandavam a parte cultural até o encerramento.
Mesmo com os inúmeros problemas que a rede pública de ensino vem enfrentando, os estudantes encontraram na Bienal um novo estímulo e ânimo para prosseguir na jornada estudantil. Surpreso pela grande quantidade de livros, o estudante Rodrigo Pires, 15, que sonha cursar química na Ufal, pontua a relevância de um evento como esse para a comunidade estudantil: “além de mostrar a importância da leitura, o evento contribui de uma forma muito forte na formação cultural dos estudantes”.
A aula na rua
Foto: Marina Prazeres
Com o intuito de ocupar as ruas do Jaraguá e ir além dos muros da universidade, a 9º edição da Bienal contou com um novo formato. Durante os dez dias de evento, as ruas do saudoso bairro e seus diversos prédios históricos se transformaram em uma grande sala de aula. Além do estímulo da leitura, o novo formato possibilitou aos estudantes o conhecimento da própria cultura. “Para os alunos, é uma oportunidade interessante de conhecer a história local através dos espaços e museus, além da socialização, de conhecer outros lugares. Quando ficamos só na sala de aula nos prendemos apenas a uma realidade”, enfatizou Suzy Menezes, professora do Instituto Federal de Palmeira dos Índios.
Esta é a terceira Bienal que a secretaria de Educação (SEMED) participa e contribui e é uma das grandes parceiras com a Prefeitura da universidade. Segundo, Ana Dayse Dorea, secretária de Educação ver as crianças andando pelo evento e super empolgadas é de grande importância, pois assim garante conhecimento e aumenta o interesse dos jovens para a leitura.
A Importância do Hábito de Leitura
Foto: Marina Prazeres
A Bienal do Livro é uma comemoração à leitura, à cultura, a educação e à diversão, tendo o livro como estrela principal. Para o leitor, é a ocasião favorável de estar mais perto de seus autores preferidos e de fazer a experiência com outros. A importância da leitura é indiscutível quando o assunto em pauta é educação. Afinal, mesmo com o surgimento de tantas novidades tecnológicas a cada dia, os livros continuam sendo uma ferramenta essencial para o processo de aprendizagem e a formação de bons alunos.
Crianças e jovens que são estimulados à leitura ampliam sua capacidade de “contemplar o mundo” e desenvolver o senso crítico para compreender o contexto no qual estarão inseridos ao longo de sua vida. Dessa maneira, atividades pedagógicas que ressaltam a importância da leitura na escola, desde a mais tenra idade até a conclusão do ensino médio, influenciam direta e positivamente na construção de adultos proativos e engajados com a sociedade.
Dentro da programação, para trabalhar a literatura infantil, o evento contou com o método de contação de história, fazendo com que a leitura penetre nas crianças e crie um hábito de leitura.
De início é interessante frisar que ler vai muito além de decodificar códigos. Essa atividade envolve a atribuição de sentido ao texto e faz com que, assim, seja possível apreciá-lo e fomentar o entendimento sobre diversos assuntos. A leitura não expõe o aluno apenas a novas palavras, aumentando o seu vocabulário. Ela também permite que ele tenha contato com novas informações, experiências, culturas e realidades. Além disso, ajuda no processo de desconstrução de conceitos pré-julgados dos estudantes e possibilita o conhecimento de uma diversidade de assuntos.
A leitura promove a reflexão e favorece um raciocínio claro. Dessa forma, o aluno adquire uma posição ativa em seu processo de aprendizagem, pois percebe que é capaz de se posicionar diante do conhecimento, de questionar e formular argumentos bem fundamentados. O senso crítico é aguçado e novas competências podem ser desenvolvidas, despertando, assim, a consciência para que se torne um cidadão ativo perante a sociedade.
A visita a Bienal se torna sempre proveitosa porque insere cada vez mais o estudante no universo da leitura, do conhecimento e do prazer que um bom livro pode proporcionar. É sempre novo, eles sempre encontram novos livros, novos autores, histórias diferentes, gente diferente, gostos diferentes. O evento tem por objetivo incentivar e democratizar o acesso à leitura, porque os livros transformam a forma como as pessoas enxergam o mundo.
Vale- Livro
O Vale-livro é uma iniciativa que oferece um crédito de R$ 15 para que os estudantes da Rede Municipal de Ensino da capital possam adquirir livros na 9ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas. A Semed investiu mais de R$ 150 mil no projeto, que atende a quase 7 mil estudantes, nas modalidades de ensino fundamental, educação básica e Educação de Jovens, Adultos e Idosos (Ejai).
"A 9ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas tem o princípio da sustentabilidade ambiental como princípio que rege toda organização, não só na venda de livros, mas na própria estrutura com pallets e o uso de sacolas que não sejam de plástico", afirma Elvira Barreto, coordenadora da Editora da UFAL. Como o Vale-livro é uma prática da secretaria nas seis últimas edições do evento, ficou definido que esse seria o “carro-chefe”. Com a meta definida, a equipe de planejamento anunciou a primeira decisão: o Vale-livro deveria ser confeccionado em papel reciclado.
Segundo o coordenador do projeto Vale-livro na Semed, Erick Nogueira, explica que a utilização do papel reciclado foi definida por dois motivos: além de aproveitar a matéria-prima, também poderia contribuir com a renda de famílias carentes. De acordo com o mesmo, a equipe enxergou outra possibilidade de contribuir com as unidades de ensino da Semed. Foi nesse momento que surgiu a ideia de inserir, no cartão do Vale-livro, sementes de hortaliças que devem ser cultivadas em plantações nas escolas.
A secretária municipal de Educação, Ana Dayse Dorea, considera como “maravilhoso” contribuir para que os alunos do município sintam de perto do ambiente literário. “Estou muito feliz em ver as crianças andando pelo evento com seu vale-livro pendurado no pescoço, passando seu cartãozinho e levando seus livros para casa, além de fazer a festa do livreiro, que garante boas vendas”, disse a gestora.
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