top of page
jornalismocosufal

A Bienal do livro como porta de entrada para a reaproximação com a leitura e com a cultura

Por Marta Alexandre e Thayla Paiva

Livros pendurados na entrada do Armazém Uzina na 9 Bienal Internacional do Livro de Alagoas (Foto: Thayla Paiva)


Nos últimos anos, ler uma história de fantasia, romance ou até mesmo biografia em livros impressos, com o advento da tecnologia e das redes sociais pode parecer um hábito um tanto antigo. Atualmente, sentir o cheiro de páginas que parecem antigas num livro novo é raro e para muitos brasileiros, custa mais caro que fazer uma leitura virtual, pelo menos, é o que revelou uma pesquisa feita pelo IBGE e divulgada no Plano Mensal do Comércio (PMC). As vendas do varejo tiveram alta de 2,3% no ano passado. O setor foi fortemente afetado pela crise das duas maiores livrarias do país: Cultura e Saraiva, que pediram recuperação judicial em 2018 e estiveram na Bienal deste ano. Foi o quinto ano seguido de queda na venda de livros em lojas físicas e em alguns casos, nos sites como Submarino, por exemplo.


Este ano, essas livrarias assim como muitas editoras vieram até Maceió para participar da 9º Bienal Internacional do Livro de Alagoas, trazendo com elas diversos autores e seus trabalhos a fim de divulgá-los e gerar economia. O curioso é que para alguns escritores é o primeiro trabalho exposto em um evento com grande visibilidade, ou a sensação de participar é sempre de ser a primeira vez como é o caso da jovem estudante de letras e escritora Jéssica Sons, de 22 anos. “Sempre gostei de escrever e ler, histórias deixam o mundo mais divertido. Quando eu cheguei a publicar o primeiro livro, eu não imaginei que iria para feiras assim, mas meu pai teve essa ideia, já fomos para muitas feiras e pra mim é super legal a exposição do meu trabalho”, disse.


Um dos motivos para a queda na venda desses produtos nas livrarias, é que as pessoas passaram a consumir livros pelo kindle ou em pdf, contribuindo com a pirataria. Mas diferente do que vemos nas redes sociais, principalmente, muitos jovens continuam comprando e lendo por meio de livros físicos e isso refletiu no maior espetáculo da literatura do estado que aconteceu na última semana, no bairro do Jaraguá, quando questionada sobre o porquê do livro físico ser mais interessante a estudante de Jornalismo, Anna Sales respondeu “Não gosto de leitura online, eu gosto de sentir o livro, de cheirar o livro, folhear ele, o físico envolve mais, no celular você se desconcentra quando ler. O livro conecta as pessoas, você pode gostar de um livro e uma pessoa que você até então não conhece, gostar também e então já se inicia uma amizade”.


Jovens, adultos e crianças apaixonados por leitura, visitaram os estandes onde dezenas de livros eram expostos e vendidos para o público, como a estudante Anna Luisa, de 12 anos que aprendeu a ler aos 4 anos porque via o pai lendo e de acordo com ele que sempre gostou de ler, ver os dois filhos interessados por algo que ele foi influenciado a fazer por sua mãe, não tem preço. Uma das razões que fazem da bienal do livro um sucesso, é que geralmente as histórias por trás são emocionantes, cheia de influências e incentivo que vem dos pais, dos amigos, dos irmãos e até da faculdade.


Falar sobre livros, principalmente o impresso é mexer com o imaginário, é tornar possível conhecer lugares, e devido férias que se aproximam, a vontade de querer viver essas histórias também se aproxima. No primeiro bimestre do ano normalmente apresenta uma alta venda de livros, no entanto, esse ano foi diferente. Em 2018, houve uma venda de 7,8 milhões de exemplares nos primeiros meses e nesse ano, o número caiu para 6,4 milhões, sendo o gênero infantil, juvenil e educacional que mais apresentaram queda. Desde o ano passado, o Brasil vem passando por uma crise no mercado editorial, o que levou algumas livrarias ao prejuízo, como a Saraiva que está em recuperação judicial e já fechou mais de 20 lojas, caso não consiga a recuperação irá à falência. As lojas online são as maiores concorrentes, sendo o maior problema. As lojas físicas estão fechando por falta de rendimento suficiente, no entanto lojas virtuais como a Amazon, vem crescendo de forma significativa nos últimos anos.

A loja online tende a crescer cada vez mais por ser mais vantajoso comprar um produto no conforto de casa e por um preço mais acessível. O que se sabe é que o negócio do livro não vai mais voltar a ser como era há 10 ou há 50 anos, independente do quão forte o livro impresso seja. Mais e mais leituras estão sendo feitas nas telas e o que tem sido lido em papel é cada vez mais comprado online e não numa loja física. Essa mudança ocorreu por muitas razões, mas é necessário encontrar um equilíbrio. A última Bienal de Alagoas teve uma missão maior do que reviver e trazer de volta os alagoanos e suas histórias a um dos bairros mais antigos de Maceió, o Jaraguá. A missão era aproximar famílias e amigos outra vez de livros impressos e do conhecimento.


A leitura e o tempo: O incentivo para além da compra do livro começa com a contação.


Ler um livro vai muito além de diversão e entretenimento, muitas vezes a leitura é educativa e ao envolver ela ensina o que a escola não consegue, principalmente, quando a desigualdade social é um dos maiores problemas e influenciam isso. A influência para a leitura precisa sair de algum lugar e algumas instituições são responsáveis por isso, seja a escola ou a família. Acontece que o fato econômico influencia diretamente na cultura da leitura. Segundo o dado divulgado pela agência britânica NOP World, dos trinta países que participaram da concorrência, o Brasil está na 27ª colocação em relação a hábitos de leitura. A surpreendente primeira colocada é a índia, que lê cerca de 10 horas semanais contra apenas 5 horas do Brasil.


Para o estudante de filosofia, Bruno Mello que lê desde os 10 anos livros de história e filosofia, não há problema entre a leitura em um livro impresso ou em um virtual, o importante é ler, “Eu não vejo diferença entre livro físico e livro digital, acho que os dois transmitem a mesma mensagem independente do meio em que ele é vinculado, mas prefiro livro físico, mesmo que eu tenha o costume ler em pdf, acho o contato com as páginas são mais interessantes”, contou ele.


Livros pendurados na entrada do Armazém Uzina na 9 Bienal Internacional do Livro de Alagoas (Foto: Thayla Paiva)


O tema da Bienal Internacional do Livro deste ano foi “Livro aberto: leitura, liberdade e autonomia” a feira trouxe a ideia de democratizar a leitura, torná-la mais atraente e mais acessível a todos os públicos e não somente a uma parcela da população. O preocupante é que das pessoas entrevistadas na última terça-feira, a maioria estudaram em escolas particulares informaram que o incentivo à leitura veio de casa, por familiares, geralmente, seus pais. A grande maioria já entrou na escola sabendo ler e a parcela delas que veio de escolas públicas não tinha o hábito de ler até chegar à escola.


Pensando nisso, uma parceria entre a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e a Secretaria Municipal de Economia (Semec) disponibilizou cerca de 60 mil reais em vale-livros para professores e alunos de escolas públicas que visitaram a feira, no valor de 15 a 20 reais. As escolas cadastradas se beneficiaram da ação e das quase 15 mil pessoas que passaram pela bienal diariamente, metade conseguiram adquirir um ou mais livros através do Vale. Além disso, a Bienal tirou dos livros alguns personagens como o peter pan, bruxos, fadas e bruxas que espalhados pelas ruas, encantaram crianças e adultos. A leitura saiu do livro para viver na rua, como a mistura do mundo fantasioso e o mundo real.


A contação de história ao ar livre foi a atração principal para as crianças, já que nem só de livro impresso é feita a leitura e pessoas caracterizadas, se dispuseram a narrar histórias do mundo literário para crianças com idade entre 2 e 5 anos. alguns grupos e projetos estiveram nesses espaços, um deles é o projeto de extensão Resgatar, da Faculdade de Medicina da Ufal. Os integrantes fantasiados de personagens dos mais variados tipos, fizeram contações de histórias para auxiliar no incentivo a leitura e atiçar a curiosidade dos pequenos que por ali passavam. Segundo a produtora geral da 9º Bienal Internacional do livro de Alagoas, Carol Almeida, as contações de história para as crianças, especialmente, com o personagem caracterizado, é o modo mais antigo de contar a história para fazer com que a criança se encante.


Para a produtora “contar a história através do ator ou da atriz sem precisar de métodos tecnológicos a não ser um microfone para que eles saiam do universo digital e para que eles venham para o fantástico mundo físico é mais legal”. Criar interesse pela leitura desde cedo, fará com que mais pessoas comprem livros, independente do gênero textual e da história. O mais interessante é que para as pessoas que contaram as histórias e interpretaram os personagens, o que ficou foi a troca durante a experiência nos 10 dias de feira.


“Para mim será inesquecível, visto que tive a oportunidade de contar histórias, que é algo que gosto muito de fazer e passar para as crianças uma mensagem boa sobre autoestima e leitura. A contação de histórias também pode ser utilizada dentro da minha prática profissional (psicoeducação) e inseri-la na minha participação dentro da Bienal foi gratificante.” Ressaltou a estudante de medicina, Carla Cavalcante. O amor pela leitura e pelos livros que nasce quando nas crianças se perpetua, se torna cultura, gosto que passa de pai para filho no futuro.


Pai e filha lançaram seu primeiro livro em parceria durante a Bienal Internacional do Livro de Alagoas (Foto: Thayla Paiva)


Uma das formas encontradas para manter o público interessado em livros impressos sem deixar de ler pelo kindle ou pelo smartphone é misturar os dois elementos, foi o que fez a escritora Jéssica Sons que uniu internet, livro impresso e fantasia no livro que disponibiliza trechos da história contada no livro em um aplicativo numa plataforma na web. “Então depende muito do público, porque quando a gente tem um público mais adulto já é mais normal que leia pelo livro digital, mas meu público é infanto-juvenil, eles não leem pela internet só se for fanfic porque pra eles o uso da internet é pra jogar online, principalmente, os meninos costumam odiar ler, então... acabam se interessando pelo livro justamente por causa dessa interatividade com a tecnologia, a gente mistura a literatura com a tecnologia e agrada todo mundo”, finalizou a escritora.


Vale lembrar que a Bienal do Livro existe para não esquecer que a cultura é sempre importante e que nada sem conhecimento, sem literatura e até mesmo sem tecnologia consegue sobreviver. Histórias para serem bonitas e continuarem existindo, precisam começar, ter meio e serem finalizadas. Em Alagoas, muitas dessas histórias envolvem livros, pessoas, dedicação e coragem, algumas não tem um final feliz, mas terminam para que novas histórias comecem e o ciclo continue perpetuando amor e conhecimento dos mais velhos para os mais novos e o papel da Bienal de gerar tudo isso e ainda economia, foi cumprido.

6 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page